QUERO SER UMA ESPONJA!

A vida na Terra levou milhões de anos para chegar até o atual estágio de evolução. Ou seja: de um mísero micróbio até a mim. É muita responsabilidade para uma pessoa como eu. Foram milhões de anos enfrentando meteoros e eras glaciais para desembocar em um cara que mal sabe trocar uma lâmpada. Os meus antepassados devem estar envergonhados. Mas não tenho culpa. Não pedi para ninguém evoluir.

Por mim, a humanidade teria estacionado nos macacos ou em algum outro ser de vida simples. Tenho inveja dos animais do National Geographic. Eles passam a maior parte do tempo comendo e trepando. Um vidão. Não têm que pagar a conta do celular e nem ler jornais para ficarem atualizados. Não têm que estudar, negociar contratos de aluguel e também não preenchem formulários de cadastro. Moram no mato, logo, nunca tiveram que se entender com síndicos e encanadores. Não levam carros ao mecânico e não sabem o que significa “orçamento”. Ok, também não têm Playstation, mas nem tudo são flores na vida.

Ser um adulto humano é fazer parte da espécie dominante. Mas ser dominante é chato às vezes. Queria algo mais fácil. Queria ser uma esponja do mar. É o ser de vida mais simples que eu conheço. Vive embaixo d´água e não se mexe, não faz nada. Não tem nem mãos, pernas ou boca. Ou seja, não precisa nem mesmo ter coordenação motora. Fica só ali, sossegadão, filtrando a água para captar nutrientes. Deve ser chato no sábado à noite, mas sem dúvida é uma vida tranqüila.

É cansativo ser um humano. Temos que fazer uso de nossas várias habilidades: ler, escrever, raciocinar e manipular ferramentas. Todas as manhãs eu faço uma lista das tarefas do dia. São sempre uns dez itens. De comprar leite a calcular o saldo bancário. Eu não dou conta. Prefiro filtrar água do mar ao invés de ter que ir ao supermercado. É mais fácil. As esponjas é que têm sorte! Não tem um jeito da gente voltar atrás na evolução?