EU QUERO O QUE É MEU!

Desisto. Depois que a Câmara dos Deputados absolveu mais dois acusados no escândalo do mensalão eu passei a aceitar a teoria de que a democracia simplesmente não funciona. Não que haja outro sistema melhor. Eu só decidi mudar a forma como eu me relaciono com o poder público. Vou passar a ter uma relação mais comercial. Afinal, com os impostos que eu já paguei, me tornei um investidor do Brasil. Sou dos pequenos, mas uma parte disso que está aí é meu. Tô a fim de pedir algumas coisas de volta.

Votos, por exemplo. Dei meus votos para muita gente. Não valem uma pataca furada, mas são meus. Quero de volta. Não, promessas não valem. Eu quero os votos. Não sei quanto do meu dinheiro de ICMS e INSS foi usado ou roubado. Mas se não quiserem me devolver, beleza. Pode ser em “espécie”. Aceito uma viatura oficial como parte do pagamento. Reforminha no Palácio? Tinham que ter perguntado para mim. Estão repintando o Congresso? Quero no mínimo uma lata de tinta. Sei lá, um dia me dá a louca de retocar a pintura da sala. O Lula tá sacando dinheiro com o cartão de crédito especial? Opa, quero uma parte. Vai comprar bebidas para a adega do palácio? Uma garrafa é minha! Cachaça vagabunda, não. Quero vinho ou uísque. Marca boa, por favor. Não adianta disfarçar, eu sei que tem aí na adega, escondidinho.

Quero parte disso daí embaixo, ó!

Tem senador viajando para os EUA? Ok, pode ir...mas vai ter que me trazer pelo menos um souvenir. Sou eu quem pago, logo, tenho os meus direitos. Como investidor do Brasil, também posso escolher no que o meu dinheiro vai ser usado. Astronauta brasileiro? Nananina...Submarino nuclear? Não quero um centavo meu nisso aí. Não rende nada, não dá lucros (não para mim). Quero investir em coisas mais rentáveis. Em discos da Xuxa, por exemplo. São uma droga, mas vendem pacas. O submarino atômico também é uma droga, mas não rende um puto. Tô fora.

E podem me chamar para aqueles churrascos, também. Desde que eu possa ficar comendo e bebendo quietinho em um canto, sem ninguém me enchendo o saco fazendo discurso. Vou levar uns amigos, beleza? É por conta da casa, ou melhor, por nossa conta, já que somos nós quem pagamos...Se eles podem levar amigos, eu também posso. Aliás, leitores: estão todos convidados! Domingão quero ver todo mundo lá em Brasília! Churrasco de graça!