A FÁBULA DO RAPPER E AS DASLUZETES

É, eu sei. Todo mundo já gastou bastante saliva sobre o debate na Daslu que reuniu pobres e ricos em torno do lançamento do livro “Falcão – meninos do tráfico” do Rapper “que se preocupa tanto que chega a doer” Falcão. Eu fiquei tão comovido com o evento que travei, emudeci. E, por isso, só agora consigo expressar toda a minha emoção nessa fábula ingênua e cheia de lições de vida:

“O falcão e as dasluzetes”
Era uma vez um rapper revoltado. Cansado de ser celebridade e não poder compartilhar a sua dor, ele decidiu lançar um livro e um documentário “chocante” sobre os meninos favelados que se envolvem com o crime organizado (lição 1: um rapper pode cantar músicas sobre crimes e mortes. Mas no fundo é sempre um ser sensível). Após exibir o documentário no Fantástico, o rapper, cheio de boas intenções, decide armar um debate com a Empresária Má do Oeste, Eliana Tranchesi, dona da Daslu.

Pobres e ricos se encontram na Mega Daslu para o bate-boca. Uma socióloga levanta-se e diz que a Daslu “é um templo do consumo”, logo, também é responsável pela violência (lição 2: sociólogos não têm a solução, mas são dotados de coração). Alguns reclamam do comentário. Um “mano” a defende. Um empresário manda o mano “calar a boca” (lição 3: um empresário pode ser educado. Mas só até a hora em que um mano abre a boca. Aí já é demais). Uma líder comunitária levanta em defesa da Daslu (lição 4: como calar a boca de um líder comunitário? Basta encher a sua boca com prosecco e patê). Uma empresária também defende a dona da loja: “Estamos aqui num evento tão bonito!” (lição 5: beleza aplaca a hipocrisia, aparentemente).

A dona da Daslu argumenta: “O consumo é bom! Nós, empresários, geramos empregos e pagamos impostos!” (lição 6: só o consumo salva. E empresárias acusadas de sonegação fiscal sofrem de ironia aguda. Ou é cara de pau mesmo). Ela diz que precisa “acordar as pessoas sobre a realidade do Brasil” (lição 7: não precisa acordar ninguém, Eliana...basta pagar os impostos em dia, ok?). Durante a exibição de trechos do documentário, algumas dasluzetes choram. O filho de Eliana se comove: “O documentário mostra a dura realidade” (lição 6: é lindo quando se vê um jovem rico abrindo os olhos para a “dura realidade”. Eles descobrem algo para pensar enquanto mergulham na piscina).

No final, todos sorriem e devoram o bufê com refrigerante e pãezinhos.

Moral da história: Consciência Social é uma coisa tão bonita que deveria virar broche para todos pendurarem no peito.