quinta-feira, novembro 01, 2012

JOGUE FORA SEU VOTO DO JEITO QUE PREFERIR.

Ok, era para ter postado esse texto antes do 2º turno. Mas a mensagem ainda vale. Senta, que o texto é longo. E, não, titio não anulou o voto.

O fato de sermos privados de votar aqui no Brasil durante um tempo fez muito mal para nós. Fez com que a gente desse muita importância ao voto. Sinto dizer, sobrinhos deslumbrados pela democracia, mas o voto não é tudo isso, não.

Durante a última eleição rolou uma saraivada de sermões. Gente dizendo que votaria nulo como protesto. E gente satanizando o voto nulo como se fosse um gesto alienado de lesa-pátria.  É como se aqueles 10 segundos na urna fossem a expressão máxima da democracia. Não é.

Voto nulo como protesto é inútil. Mas é um direito de qualquer um. Esse papo de votar no “menos pior”, ou de “assumir o seu papel de cidadão” é balela. Vale lembrar o melhor episódio de South Park, em que os alunos da escolinha devem escolher o novo mascote do time. E as opções são o “Sanduíche de Merda” e o "Babaca Inútil- veja aqui um trecho (qualidade ruim, uma pena). No Brasil é o que rola na maioria das vezes. Mas, tudo bem: se você não gosta de nenhum deles, não vote. Qual é o problema?

Porque a classe política tem nos oferecido pouco mais do que alguns sanduíches de merda. E de quem é a culpa? Nossa. Nesse vídeo do mestre George Carlin ele explica porque não vota. E lembra: políticos deveriam ser o que de melhor nos criamos. Se nós criamos esses borra-bostas, é porque nossa sociedade é mesmo medíocre. Eu assino embaixo.

Votar não te faz uma pessoa mais “consciente”. Tenho certeza de que aqueles que votaram no Maluf para deputado estavam plenamente “conscientes” do que faziam. Comparado a eles, o sujeito que vota nulo faz bem menos estrago. Prefiro alguém que assume o “não voto” do que aquele que insiste em votar errado. Nego que votou em Russomano é mais consciente do que eu? Nem a pau.

E dizer que o eleitor que vota nulo NÃO tem direito a reclamar é uma afronta à razão. Se fosse assim, crianças e adolescentes (que não votam, lembram?) não teriam direito a voz. Votar é uma parte ínfima do processo democrático. O sujeito que anula o voto e se dá o direito de reclamar e fiscalizar seus governantes é muito mais cidadão do que aquele que vota bovinamente e aceita tudo o que seu candidato faz.

Essa euforia forçada em torno das eleições é um espetáculo tão falso quanto desfile de escola de samba. O seu voto não tem todo esse poder de mudar o destino. Mesmo porque, o nosso sistema eleitoral é cheio de distorções. O Voto Proporcional, por exemplo, faz com que você vote em um deputado e eleja outro. Bacana pacas.

Aliás, você já notou que as duas melhores demonstrações de eficiência do estado brasileiro são as eleições e o sistema de arrecadação de impostos? Funcionam como relógios. Todo o resto é uma merda. Não é curioso que os mecanismos mais eficientes são justamente aqueles que servem para a manutenção confortável da classe política? Lembre-se: quem mais estaria interessado em fazer do voto uma coisa obrigatória?

Olhe bem para os últimos candidatos. Você acha mesmo que o objetivo principal deles era cuidar da sua cidade? Leia este interessante artigo que explica como o debate político está vazio de conteúdo útil. As discussões estão dominadas por manobras marketeiras. Por exemplo: desde quando a religião do candidato interfere na sua competência? Nem a imprensa cumpre mais seu papel de botar os candidatos na parede. Toda eleição vira um fórum de platitudes.

Veja o caso de São Paulo. Haddad e Serra disputaram a prefeitura a tapas. E no final da campanha já estavam falando bobagens como “vou ter garra”, vou suar a camisa”. Na boca de um jogador isso até engana. Mas em um candidato a prefeito é tão útil como um pente para bolas de boliche.

Óbvio, né, Juquinha? O que estava em jogo não era a cidade de São Paulo, e sim o plano de governo de dois partidos que transformaram a política nacional em um fla-flu estéril. Serra não estava nem aí para a cidade. E Haddad é apenas um garoto de recados dos seus líderes. O que VOCÊ acha melhor para a cidade é mero detalhe.

O resultado mais relevante da eleição em São Paulo foi o número enorme de gente que não votou em "ninguém". Se você juntar Serra e "Ninguém", dá mais do que os votos em Haddad - ou seja, quem vai governar nem mesmo representa a maioria dos eleitores. Estamos cansados desse joguinho, Juquinha.  Está com tempo? Então leia mais esse artigo. É do André Forastieri, que explica o voto em "Ninguém".

Por isso, em vez de sair por aí se sentindo um super-homem porque votou, faça algo mais útil: seja um pentelho. Cobre os políticos. Eles não merecem se sentir confortáveis, muito menos apoiados por você.

E, por favor, me deixe ser cético. É meu direito. E minha escolha. Se você acredita nos sanduíches de merda, o problema é seu. 

18 Comments:

Anonymous Silvia said...

Tio, esse foi o post mais existencialista que vc ja escreveu. Espero que vc nao tenha comecado a admirar Sartre, e ter "A Nausea" como livro de cabeceira. E o pior e que vc ta certo. Mas o que doi mesmo e ver o povo metendo a Boca um no outro, com argumentos de futebol de varzea na defesa do seu "partido" (que a maioria nem sabe o que e). Bom pra partidos que tem sua base no futebol varzeano, mesmo.
O povo nao sabe cobrar seus politicos ainda, Tio. Ainda. Precisa aprender, e receio que isso leva algum tempo.

quinta-feira, novembro 01, 2012  
Anonymous Bueno said...

O que você faria com os 4 bilhões que o George Lucas ganhou?Outra: alguma opinião sobre os próximos filmes [do Star Wars]?

quinta-feira, novembro 01, 2012  
Blogger Claudio Tavares said...

Não tem isso de "cidadania". Depois do voto, você não tem a sensação de dever cumprido. Essa sensação nós temos depois de fazer um trabalho bem feito ou uma boa prova na escola. Até depois de um sexo gostoso é possivel se sentir assim.
Na e
leição, não, meu chapa! Não há nenhuma certeza de que o seu candidato, supondo que seja eleito, vai resolver os problemas do seu município. Faz anos que estamos votando nos "menos ruins" e estes estão cada vez "mais piores".
Então, depois do voto, a única sensação que tenho é de estar livre dessa obrigação. Em alguns casos, essa incerteza pós-voto deixa a impressão de que seu corpo toma uma consistência meio gente, meio merda: será que votei corretamente?!

quinta-feira, novembro 01, 2012  
Blogger Tuna Fusion said...

tio, endosso seu post e o artigo do Forastieri, mas somente não concordo em incluir o voto em branco como "voto em ninguém". o voto em branco é o voto "em qualquer um" - e o cara que faz isso está mais integrado que aquele que votou consciente em qualquer dos outros candidatos. O George Carlin pode escolher não votar (pra ele é fácil) e esse é o sonho da minha vida, mas nós DEVEMOS votar. por causa da obrigatoriedade a abstenção nos obriga a cumprir com outra pentelhação que é a justificação. eu prefiro o voto nulo porque é a última expressão a que tenho direito. E não é nem por causa da falta de opção entre candidatos de merda, é pela liberdade de escolher SE vou ou não votar. o que eu quero é o fim da obrigatoriedade. Pode ser uma idéia romântica de minha parte, mas creio que se tivermos um número massivo de anulações e/ou abstenções (sem incluir votos brancos) e se alguém na mídia jogar uma luz sobre o assunto, todo o processo poderá sofrer uma revisão. Agora, um número massivo de votos brancos só refletem o alto nível de apatia, de pouco caso e de "bunda-molice" dessas pessoas. Já ouvi dizerem que a razão da obrigatoriedade do voto é a falta de maturidade da população pra escolher se vai ou não votar. Vendo o resultado que está por aí, creio que talvez fosse melhor voltarmos a ficar sem votar. Por que? Veja o que ocorreu na última eleição presidencial: os eleitores são tão burros que teve Estado em que a maioria votou num partido para presidente e para o resto votou na oposição. Isso é promover uma ingovernabilidade, que acaba se transformando na receita básica para a corrupção que temos instalada por todo o corpo político. É PURA BURRICE. Se eu tivesse meios, eu já teria me mudado com minha família daqui pra outro país. Analisando tudo isso e depois de ter lido aquele livro que vc me indicou, chego à mesma conclusão sempre: o Brasil tem apenas 3 remédios - CTRL, ALT e DEL.

quinta-feira, novembro 01, 2012  
Blogger Walter Carrilho said...

-Silvia: o meu post mais existencial acho que é esse http://waltercarrilho.blogspot.com.br/2007/09/o-que-vida-afinal.html

-Bueno: eu pegaria os 4 bilhões e impediria qualquer um de mexer na série Star Wars! Tô com medo do que a Disney vai fazer.

-Tuna: sim, o voto em branco é diferente do nulo. Mas, enfim, mais de 20% dos eleitores não quiserem votar nos dois candidatos. E o voto facultativo é um sonho dourado meu também. Pelé estava certo: o brasileiro não sabe votar!

sexta-feira, novembro 02, 2012  
Blogger Nimloth Undomiel said...

Walter, artigo FODA, referências FODA. Parabéns.

sexta-feira, novembro 02, 2012  
Blogger Ricardo Salomon said...

Ver o titio Walter no modo sério me assustou um pouco. Texto cruel, mas objetivo. Bem, em país que leva política na brincadeira, jornalista que leva a sério é boçal, né mesmo, Walter?

sábado, novembro 03, 2012  
Anonymous cristiano said...

to contigo Walter, pra que escolher o pepino se são todos do mesmo tamanho
não acredito nessa de "político menos ruim", vou pensar em votar em alguém quando:
A - mandarem políticos e policiais corruptos para a cadeia ao invés de apenas destitui-los da função.
B - criarem penas realmente rigorosas para infratores de transito.
c - fazer obras e melhorias nessa e em outras cidades por que é o certo e não por que a casa vai receber visitas em 2014 e 2016.
No próximo feriado não saio de casa nem para votar em branco.

sábado, novembro 03, 2012  
Blogger Walter Carrilho said...

Ricardo: pode ficar mais tranquilo, pois o próximo texto vai ser sobre a Preta Gil, rsrsr.

domingo, novembro 04, 2012  
Anonymous V(na).lra said...

Nesse 2º turno comecei e vou continuar a votar nulo, porque todas as vezes que votei em alguém me arrependi depois.
Por causa desse negócio de votar em menos pior, os soteropolitanos escolheram o herdeiro de ACM, colocaram a família Magalhães de volta no poder, só pra se vingar do PT. Agora vão ser no mínimo 4 anos aturando essa dinastia de novo...

segunda-feira, novembro 05, 2012  
Blogger Unknown said...

Enquanto o voto for obrigatório teremos madadas e muitos sanduíches de merda.

Infelizmente...

Aliás, é uma das contradições dessa terra: é uma democracia, onde o voto é obrigatório!

segunda-feira, novembro 05, 2012  
Anonymous cristiano said...

walter, o que vç achou daquele caso do garoto que morreu no ônibus por causa da musica no celular sem fone?

terça-feira, novembro 06, 2012  
Blogger Walter Carrilho said...

Cristiano: acho que é sinal de que estamos chegando no limite, né? Já tive vontade de jogar uma granada em cara sem fone, mas não fiz pq ainda tenho juízo (um pouco). Mas acho que estamos todos esperando a gota d´água. Fone de ouvido deveria vir junto com cesta básica eu acho!

terça-feira, novembro 06, 2012  
Anonymous Anônimo said...

O nosso sistema eleitoral é adorável!

Eles deviam distribuir KY Gel, vaselina, ou qualquer outro lubrificante do gênero nas eleições. Já que você sai pra votar sabendo que vai terminar tomando no rabo, pelo menos seria gentil fazerem alguma coisa pra amenizar a dor...

Olha que legal que aconteceu na minha cidade:
A eleição estava sendo disputada basicamente por dois candidatos, sendo que um deles é conhecido por ser um mafioso (no duro, o cara é bicheiro mesmo, sem exagero!) e o outro por falar pérolas do tipo "a gente vamos lutar!" ou ainda "a gente conseguimos, depois de muita luta!".
Em resumo, vamos chamar os dois, respectivamente, de mafioso e babaca inútil.

Enfim, o mafioso ganhou as eleições, se não me trai a memoria com quase 50% dos votos (aqui não tem segundo turno, a cidade tem menos de 200.000 habitantes). Só que aí vem o tribunal eleitoral e diz: "Ah não, mas o mafioso não podia se candidatar, porque ele é mafioso... Ele está sobre investigação da polícia federal, e tal... Lei do ficha limpa, saca?" Então, TODOS os votos no mafioso foram simplesmente ANULADOS. E ganhou o babaca inútil, com menos de 30% dos votos, que em seu discurso de vitorioso afirmou que "a gente lutamos muito pra chegar aqui, mas a gente conseguimos e vamos continuar lutando".

O que me deixa puto de verdade: Se o mafioso não poderia assumir caso fosse eleito, por quê cargas d'água deixaram ele se candidatar, pra começo de conversa?
Outra, então ele não pode assumir, OK, descarta o cara, mas aí não deveria ter uma outra eleição com os candidatos que PODEM assumir? Quer dizer, o nosso prefeito eleito não foi escolhido pela maioria dos votos nem de longe... Até porque, as pessoas que votaram no mafioso dificilmente votariam no babaca inútil, mas teriam votado no terceiro colocado, muito provavelmente (que teve poucos votos a menos que o babaca inútil).

Nosso sistema eleitoral é adorável...

quarta-feira, novembro 07, 2012  
Blogger Walter Carrilho said...

Anônimo: e sabe o que me assusta? O fato de saber que casos como o da sua cidade devem ser muito comuns! Como um cara desses (o mafioso) consegue se candidatar, meu deus?

Aqui em SP teve um caso curioso há um tempo. Lembra do Enéas? Ele se elegeu vereador com uma porrada de votos. E, com isso, elegeu vários outros vereadores do seu bando, beneficiados pelo voto proporcional. Resultado: teve vereador que assumiu com pouco mais de 500 votos!!! É mole?

abs e boa sorte com o babaca inútil eleito em sua cidade!!!

quarta-feira, novembro 07, 2012  
Anonymous Silvia said...

Tio, nos anos 90 o presidente da Camara de uma certa cidade da Grande São Paulo era um assassino condenado, com sentenca lavrada e tudo...so nao era preso por causa de imunidade parlamentar. Pois e...
Agora, chega de abaixo astral, Tio. Acho que tem mocreia nova no pedaco pra voce analisar. Que que vc acha da Nana Gouveia? essa conseguiu ser manchete internacional (argh!)

quinta-feira, novembro 08, 2012  
Anonymous Anônimo said...

Tio, obrigado pelo desejo de boa sorte, mas aparentemente o babaca inútil sumiu aqui...
Há quem diga que ele foi ameaçado de morte e fugiu para se esconder, ninguém sabe bem, mas o fato é que ele simplesmente desapareceu...

De repente ele viajou pros Estados Unidos pra tirar fotos da Nana Gouvêa, vai saber...

sexta-feira, novembro 09, 2012  
Anonymous Lucho said...

Fantástico o texto. Escreveu tudo o que eu penso, mas não teria capacidade e elegância para escrever.

Vou esfregar esse texto nas fuças de um monte de babacas anti-voto nulo. Babacas esses que acham que democracia é só votar e pronto, acabou. Os famosos ativistas de urna.

quarta-feira, junho 05, 2013  

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