DIARIO SENSÍVEL DE UMA SOCIALITE QUE SE PREOCUPA PACAS

Dentro de um patricinha também bate um coração. O deputado estadual Turco Loco (dono de confecção e, tipo assim, um cara ishpeeerto pacas) sabe disso. Por isso está patrocinando excursões de endinheirados rumo à periferia de São Paulo. É para eles entrarem em contato com a “realidade”, manja? Bonito, bonito. Se entrarem em uma favela vai ser um must! Já posso imaginar os comentários que uma Dasluzete escreverá em seu diário da Barbie:

Dear Diary: A excursão foi tuuudo! Tipo assim, a favela é chocante! A vida desses pobres é muito boa, eu não sabia! Fica todo mundo parado na rua, conversando, bebendo...ninguém trabalha! Eu, que tenho uma agenda suuuper lotada, fiquei com inveja. Amanhã, por exemplo: eu tenho cabeleireiro, manicure, aulinha de inglês, almoço com a Marcinha e balada na boate da Clau. E esse povo diz que eu sou fútil!

Tinha muita criança solta na rua. Muito fofas. Eu perguntei para o guia se podia comprar uma. O Kiko, meu pastor alemão, ia adorar, ainda mais depois que ele estraçalhou a última empregada. Tá precisando de brinquedo novo. O guia falou que não podia, que era melhor eu doar o dinheiro para a família. É mole? Dar o dinheiro assim, sem levar nada em troca? Muito uó!

E saca só: esses pobres são suuuper fashion. Eles parecem aqueles estilistas modernos: vivem de chinelo! Será que é Havaiana mesmo? Mas a favela é muito feia, viu? Mal decorada, sem cor! Parece que nem piscina tem. E os carros? Ai, credo, é tudo velho. Nem um carro bacana para ir até Maresias? Deve ser chato, né? A miséria me deixa triste. Tão triste que depois eu tive que comer um balde de Haggen-Daz. Eu sou assim: sensível.

Para você ver: eu sou muito louca! Topar uma aventura dessa? Sei lá, tô pensando até entrar no MST. Saco tudo dessas coisas sociais. Ou então peço pro pappy me dar grana para eu ir pra Beirute. Dizem que tá bombando, né?