MEU PROBLEMA COM A PÁSCOA

Páscoa é para comer peixe e chocolate, certo? Chocolate, ok. Mas peixe...não sei...Comer peixe traz um problema sério para um paulistano como eu. Por morar em uma cidade intoxicada e longe do mar, o meu cérebro faz uma péssima associação entre peixes e quantidades não aconselháveis de coliformes fecais e detritos químicos. Afinal, achar um rio ou lago que não tenha a aparência de vômito em São Paulo é algo tão fácil quanto achar uma virgem em uma enfermaria de gestantes.

Peixe para mim só pode ser consumido em ambientes com areia, vendedor de camarão berrando e aquele risco eminente de levar uma bolada na cuca. Peixe e São Paulo não combinam. Eu até tento não atropelar a tradição. Mas, quando isso é inevitável, eu compenso a falha com outra tradição profundamente religiosa: a mistura de culpa e purgação. Minha aversão a peixes é proporcional à atração por chocolates. Três ou quatro dias depois da páscoa, eu sou violentamente punido pela fita métrica e pela balança. E, para completar, inevitavelmente surge uma espinha colossal em algum lugar bem visível, como a testa ou nariz. Sou obrigado a desfilar a marca da vergonha por ter me rendido à gula e ao consumo desenfreado de gordura hidrogenada.

Vou para a praia para ver se escapo da danação.