terça-feira, maio 22, 2007

DESISTA DE LER

Confesso: apesar de ser viciado em livros, eu não compactuo com o entusiasmo estilo "Polyanna" desse povo que diz que a literatura transforma vidas. O Sarney é escritor e isso é um péssimo sinal. A coisa piora quando se trata dos “clássicos”. Não confio nos críticos histéricos que pregam a necessidade de lermos todos aqueles romances portugueses com frases cheias de mesóclises.

O problema é que os clássicos, na maioria das vezes, foram escritos em épocas sem penicilina e caneta esferográfica. As “lições” e “descobertas” que eles proporcionam podem estar meio desatualizadas. “Dom Casmurro”, por exemplo. Alguns acadêmicos têm orgasmos múltiplos ao discutir se Capitu deu ou não deu para Escobar. Se fosse um romance moderno, Capitu teria, sim, dado para Escobar. E para o padeiro, para a filha do padeiro e para um videomaker que atende pelo apelido de “Tonhão betamax”. Dúvida moral é um troço meio ultrapassado.

Na fase escolar a gente sofre com José de Alencar e seus índios virtuosos. Ele gasta três páginas para descrever o tom de pele de um cacique. Coisa de quem não tinha o que fazer. Se fosse hoje, José de Alencar passaria o seu tempo assistindo DVD e desencanaria da idéia de ser escritor. E as provas de vestibular seriam bem mais fáceis.

Nunca li Dostoievski e, olha, tô legal. O que me consola é que se você perguntar quem foi esse cara para 100 pessoas da lista dos mais ricos do Brasil, aposto que pelo menos uns 50 vão perguntar “Cu de quem?” Já falaram que ninguém continua o mesmo depois de ler uma obra do romancista russo. Não sei, o que esperar da leitura de um livro de Dostoievski? Desenvolver epilepsia, como ele?

Ler é ótimo, mas jogar para cima dos clássicos a responsabilidade de ajustar a humanidade é um pouco demais. Os clássicos são habitados por russos bêbados, gregos que usam sandálias e ingleses que acham gravata borboleta um “must”. Não dá para confiar nessa gente.

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25 Comments:

Blogger Ricardo Rayol said...

walter uma bela defesa da extinção dos classicos, e não sei onde li que realemnte tem gente nessa viagem de saber se a capitu deu ou não deu.

terça-feira, maio 22, 2007  
Blogger Serjão said...

PUTZ. isso é que é crítico com culhão. Botar na vala comum todos esses caras é muito bem. É isso mesmo que vc disse; Geralmante os caras contextualizam o ambiente durante vários parágrafos como preliminares intermináveis. Um saco. Por isso que mulher gosta tanto;
Walter, eu tenho muita dificuldade de ler algo que não seja informação. Para ler ficção é melhor ver um filme.

A propósito, topas se candidatar à ABL? Tem o apoio do meu blog

Abraços

terça-feira, maio 22, 2007  
Blogger Giulia said...

É isso aí, Carrilhão! Cê também foi obrigado a ler Moby Dick?

terça-feira, maio 22, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Walter, vc poderia ter pedido pra moça subir numa escadinha ou num banquinho antes de fotografá-la. O post? Ué, vc disse pra desistir de ler. Só vi a foto.

terça-feira, maio 22, 2007  
Anonymous Anônimo said...

o que pega no Brasil é a questão da prática da leitura e não a leitura dos clássicos. O que acontece muito é que a criança não tem a prática da leitura e o primeiro livro que jogam na mão dele é um Machado de Assis ou um Camilo Castelo Branco (arrgh!!). Ninguém mais começa lendo a Ilha do Tesouro. Todos os bons leitores que conheço começaram lendo por prazer e não por obrigação.

terça-feira, maio 22, 2007  
Blogger Santa said...

Não lendo o MAGO já está de bom tamanho. rss

Bjs

terça-feira, maio 22, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Ah, não falou do Paulu Cuelho?

Não creio!!!!

hahahahahaah

Ou será que você curte o """mago"""?

terça-feira, maio 22, 2007  
Blogger MariEdy said...

Carrilhão,
só para informar (não tira o aborrecimento que é ler José de Alencar): o Guarani foi editado, icialmente, como folhetim. E se J.A. ganhava por folha escrita, como Alexandre Dumas, CLARO que ele iria encher não uma, mas um montão de linguiças.
Pessoalmente, leio O Guarani às gargalhadas, como também levo música escocesa à sério. Devo estar sintonizada em canal errado (hehehehehe).
É verdade: jogar nas mãos dos neófitos um Camilão, assim, sem mais aquela, é de lascar!
A garotada aqui de São Paulo devia começar com Francisco Marins. GÊNIO!!

terça-feira, maio 22, 2007  
Blogger Blogildo said...

Eu leio clássicos. É o meu cilício. Minha auto-flagelação. Rsrsrs!

Mas quem diz que a leitura de clássicos tranforma a pessoa é no mínimo um ingênuo. A leitura de clássico é um bom passatempo. E só. Imagine o prazer de ler Proust descrevendo uma insônia de uma única noite por cerca de 50 páginas! Melhor que Playstation!

terça-feira, maio 22, 2007  
Blogger PollyQueiroz said...

O pior é que professores põem nós, pobres alunos)em debate forçado a saber de Capitu teria ou não traído.Pra que me serve isso?
-Uma maior nota no vestiba?!

Uma outra coisa que me chamou a atenção, foi uma cara colega minha, achando-se a maioral da literatura na sala, que lê trocentos livros por ano, que tem Casa-Grande e Senzala, de Gilberto Freyre e leva esse tijolo todo santo dia na mochila(acho que nem o lê),que é a poeta e acha que é a reencarnação de Cecília Meireles(argh!)...tirou 4 na média de Literatura...

Eu, pobre mortal que nem chega perto desses clássicos...só leio pra me divertir mesmo...tirei 9, e nem me chego muito pro lado da palavra...coisa de brasileiro...

terça-feira, maio 22, 2007  
Blogger Giulia said...

Gente, o "clássico" de hoje poderá ser lixo amanhã! Eu fui obrigada a ler Moby Dick e depois O velho e o mar. Duvido que os dois sobrevivam ao nosso século. Enjoei mais do que numa viagem de navio! E antes de o adulto impingir um livro a um adolescente, precisa saber se esse já tem maturidade suficiente para apreciá-lo. Eu li Machado de Assis já adulta, pois graças a Deus no meu país não era leitura obrigatória. Duvide-ó-dó que uma garotada de 15/16 anos consiga curtir tanta ironia e sutileza!...
Sugerir livros para crianças e adolescentes exige discernimento, para não matar de vez o prazer de ler.

terça-feira, maio 22, 2007  
Blogger Revista Errata said...

Pô... E eu que achava que Dostoievski fosse um bailarino...

quarta-feira, maio 23, 2007  
Blogger Mila said...

Agora imagine meu desespero, estudante de Letras, odiando os clássicos.
"E pq está no curso?"
Porque eu gosto de literatura moderna, quero aprender uma (ou mais de uma) língua estrangeira.
Não suporto aquela idolatria em cima do Machado de Assis. Tantas outras coisas pra ler... E coisas legais! rs

quarta-feira, maio 23, 2007  
Blogger Blog do Beagle said...

Tem momento para tudo. Esses clássicos são muito difíceis de serem deglutidos, sem dúvida. Todavia, adoro ler. Adoro o ato de entrar num personagem e sentir o que ele sente ... Bjkª. Elza

quarta-feira, maio 23, 2007  
Blogger Roy Frenkiel said...

Olha, Walter concordo e discordo, nao eh questao de jogar em cima a responsabilidade, ou seja, isso eh uma impressao pessoal. A verdade eh que a literatura tem a praxis de mostrar possibilidades, e sim, as vezes uma singela forma da descricao de um personagem ja basta para fazer pensar. Dostoiveski eh muito bom, mesmo, apesar de as vezes cansativo, mas uma coisa eh verdade, quem te disse, Walter, sentiu, ne? Ou quis sentir, pelo menos haha.

Enfim, o meu modo eh que ha tanta coisa a cagar em cima... Cagar em cima do que nos falta eh uma grande cagada haha

abraxao

RF

quarta-feira, maio 23, 2007  
Blogger Luc said...

Qual a vantagem de ler os clássicos???

Se todos tivessem lido O Idiota, as pessoas saberiam identificar um, e não estaríamos aí com uma mula no papel de presidente.

quarta-feira, maio 23, 2007  
Blogger Walter Carrilho said...

Explicando:

-Paulo Coelho não está na lista pq não é clássico. É picareta, que é outra categoria.

-Moby Dick e livros de Machado de Assis são legais, desde que você leia na idade certa. Li Moby Dick com 10 anos e pensei que era um livro sobre um cara que caçava uma baleia. Li de novo aos 20 e percebi que a história era outra.

-Nada em especial contra os clássicos. Muito menos contra ler. Só acho um saco definir obrigatoriedade na leitura. Sarney deve ter lidos os clássicos e nem por isso é uma pessoa melhor...

quarta-feira, maio 23, 2007  
Blogger TV said...

Walter, você está cada dia mais boçal. Não falo por esta postagem em particular, mas por todas as demais também... IMPAGÁVEL! Eu sou fã!

quarta-feira, maio 23, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Nem me fale, Walter... José de Alencar me derrubou, e olha que nem no colegial eu estou u.ú

quarta-feira, maio 23, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Tb concordo e discordo. PRECISO defender o Dostoievski, que é fantástico."Crime e castigo" foi um dos melhores livros que já li, independente de ser considerado clássico por esses babacas tds. O cara escreve bem e é maluco pra caramba.Sem essa de "ajustar a humanidade", hehe.

Bjs

quarta-feira, maio 23, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Faltou Jorge Amado que, pelo "li" nas novelas da Globo, parece que escreveu uma coisa só.

Ah, soube que você anda tendo problemas para aprender miguxês. Então toma:
http://aurelio.net/web/miguxeitor.html

quinta-feira, maio 24, 2007  
Blogger Jorge Sobesta said...

Walter,

É a primeira vez que vejo uma buzanfa tão formosa a cata de livros, hehe.

Grande abraço.

quinta-feira, maio 24, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Concordo que a transformação da leitura dos clássicos em pré-requisito/necessidade é leviana.
Só penso que, apesar disso, os clássicos têm lá seu público e podem interferir em uma parcela da humanidade, daquele jeito, para aquelas pessoas.
Só não pode virar a única referência possível.
Abs.

sexta-feira, maio 25, 2007  
Blogger Roy Frenkiel said...

Hahaha Walter, amei seu elogio ao Paulo Coelho :P:P:P

sexta-feira, maio 25, 2007  
Blogger Daniel F. Silva said...

Uma nação é feita de homens e livros, já dizia o Monteiro.

sábado, maio 26, 2007  

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