UM IDIOTA NA ESPANHA. PARTE 1.

Sobrinhos, a Espanha é um país bonito. De doer. Tem prédio histórico a dar com o pau, igrejas, museus enormes, ruas floridas, um bar em cada esquina... Ficou interessado? Então corra, porque isso pode acabar rapidinho.
Sim, o bicho está pegando por lá. Cheguei em Madrid no dia em que milhares de pessoas se manifestavam contra cortes no sistema educacional. Lá é assim: eles se mobilizam em torno de assuntos importantes, como “ensino” e “economia” em vez de fazer “marcha da tapioca”, ou coisas do tipo.
A gente aqui está acostumado com crise. Lá é diferente. Os caras chiam. Vale lembrar: eles atravessaram o Atlântico em barcos de madeira para conquistar a América. E tiveram a manha de mandar um “passa moleque” em astecas, maias, etc. Ou seja, eles são craques em “ir pro pau”, são valentões. Se eles não aguentarem a bronca é porque ninguém mais aguenta.

Entendam: não tem nada a ver com o mito de que espanhol é boa vida. Nessa pesquisa (dica do André Forastieri) você vai ver que eles trabalham mais do que os alemães. Mas eles parecem curtir mais a vida, não ficam nessa paranóia de "produtividade" como americanos e japoneses. O ritmo do mundo de vida deveria ser ditado por espanhóis. Continuaríamos trabalhando muito, mas pelo menos teríamos mais pausa para beber sangria.
Na verdade, acho que a Espanha é um Brasil que deu (mais) certo: tem mar, malemolência, música, calor e comida picante. Mas tem alguns séculos de desenvolvimento na frente. Logo, se ela se der mal é sinal de que a gente também vai dar com a cara no muro, mesmo que comece a fazer tudo certinho por aqui (duvido, mas enfim...).
A Espanha é um Brasil organizado e menos jeca: cidade bonita lá NÃO é cheia de prédio envidraçado. Você não consegue andar 100 metros sem trombar com uma catedral medieval ou um casarão da era de Napoleão. É diferente do que a gente vê no Brasil, onde qualquer coisa com mais de 50 anos está caindo aos pedaços ou já foi demolida para virar shopping.
Lá as pessoas não vão para o shopping Se encontrar. Vão para as ruas, para as praças (tem muitas) e bares. É a vantagem de um país em que para morrer 10 pessoas de uma vez é necessário um ataque terrorista ou um terremoto, e não um chilique de um traficante que acordou de mal humor.
A nossa sorte é que o espanhol é orgulhoso. Ele vai dar um jeito de sair dessa. Se fosse com a gente já estaríamos vendendo castelos e os quadros do Picaso para pagar a dívida.
Cruze os dedos para a crise passar. A Espanha tem que dar certo. Senão vamos ter que obedecer os suecos e ingleses. E eles são péssimos em fazer vinho.
Cruze os dedos para a crise passar. A Espanha tem que dar certo. Senão vamos ter que obedecer os suecos e ingleses. E eles são péssimos em fazer vinho.
Aguardem a segunda parte. Deixei para o final a parte que
mais interessa: comida, arte e mendigos na rua. Não percam!
Marcadores: Um repórter na roubada
8 Comments:
Tio,
Na boa, parece que você não passou o perrengue que a maioria dos brasileiros passam com a puliça espanhola, que se comporta como se estivesse na Idade Média invadindo a América Central.
Admiro, não só os espanhóis, como o povo europeu como um todo, pela capacidade de manter suas tradições, seu orgulho nacional (apesar de alguns ataques xenofóbicos), da preservação da sua história - e olha que já passaram por 2 grandes guerras mundiais. Nesse quesito, temos muito a aprender com eles.
A gente tem sempre o costume de sentar a pua no "povo brasileiro", como se não fizéssemos parte dele, mas uma de suas qualidades - que o excesso acaba transformando em defeito - é a receptividade, coisa que os espanhóis arrogantes não têm. Estão lá, com uma mão na frente e outra atrás, mas o nariz... continua em pé!
Além disso, assim como os portugueses, se hoje eles têm castelos e museus e lugares históricos, não devemos nos esquecer que muito disso foi construído às custas do ouro roubado das Américas, e com muito sangue indígena.
Vou continuar acompanhando sua saga nas terras de Dalí, para ver o que você aprontou por lá!
Sobrinha: não passei perrengue, não. Na verdade, achei o povo bem caloroso e amistoso. O nariz em pé todo europeu tem, não tem jeito - é nostalgia da era em que eles mandavam no mundo.
E, sim, a riqueza vem em grande parte do que eles roubaram da América. Mas nisso pelo menos eles foram competentes, construíram uma civilização com a grana. Se fosse conosco a gente gastava tudo em transamazônica, etc.
Mas fique tranquila. Eu nunca esqueço que sou brasileiro. Só que, como jornalista boçal, meu papel é falar mal e espicaçar o orgulho nacional, que eu acho desmedido. Sei lá, para mim não existe humor " a favor, saca?".
Bjs!
Eu me divirto com essas suas viagens, pq vc sempre dá um jeito de falar mal de alguém, kkkk. Quero ver o que vc tem para falar de comida! Me gusta la paella.
"Lá as pessoas não vão para o shopping Se encontrar. Vão para as ruas, para as praças (tem muitas) e bares. É a vantagem de um país em que para morrer 10 pessoas de uma vez é necessário um ataque terrorista ou um terremoto, e não um chilique de um traficante que acordou de mal humor".
Existe até o risco de a ONU intervir a nosso pedido. A dificuldade maior é a seguinte: como a laboriosa, humanista e utilíssima organização vai achar tempo entre um panfleto e outro para analisar um pedido tão importante em favor de seus leitores, já que não existe proselitismo barato em suas reivindicações.
Tio, vc visitou só Madri? Eu fui pra Barcelona (achei overrated, mas o Parque Guel e a Casa Batló fazem valer a pena) e pra Sevilha, que pra mim mostra bem o que vc falou sobre eles manterem os prédios históricos e não destruírem tudo pra fazer shopping. Umas das coisas de que gostava quando morava na Europa era justamente visitar cidades com arquitetura antiga, e não ver esses prédios espelhados que temos aqui (que são cópias americanas absolutamente sem razão de ser aqui, já que são feitos para reter calor).
Mas concordo com a primeira comentarista: os espanhois são bem arrogantes (não todos, claro). Fui mal tratada na imigração em Sevilha, um horror, mas todos os não-europeus sofreram aquele dia, não foi algo direcionado por ser brasileira.
Se tiver a chance de voltar um dia visite uma praia chamada Chiclana, fica a umas 2 horas de Sevilha. Um dos lugares mais lindos e fofos que já visitei.
Kelli: fui para Sevilla (que é uma coisa de louco) e Málaga. Aguarde a segunda parte para falar dessas cidades. E de comida,bêbados, mendigos, etc.
Olá Aceita Parceria? www.baixedemais.org
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