sexta-feira, janeiro 29, 2010

VOCÊ VAI VER O SHOW DO METALLICA?

O The Who tinha uma música cuja letra falava “Espero morrer antes de ficar velho”. Eu acreditava no lema, mas como gosto demais de certas coisas da vida (pudim de leite e tintos do Alentejo, por exemplo), acabei aceitando a idéia de ficar mais velho. Mas me sinto cada vez mais fora “do esquema”. Não sei se evolui ou se apenas fiquei mais ranzinza.

O Metallica está em São Paulo e vai lotar o Morumbi por duas noites. Acredite se quiser, Juquinha, mas houve uma época em que eu usava jaqueta jeans e uma franja “desse tamanho”. Eu curtia ir para estádios tomar pisão e ficar 7 horas de pé debaixo de chuva. Hoje meu ortopedista proibiria. Não consigo mais ver graça em pagar pelo desconforto enquanto roqueiros milionários descansam em camarins com 700 toalhas.

Mas também não curto essa tiozada que sai do escritório e vai beber uísque sentadinho no show do João Gilberto – mesmo porque, o risco dele ficar putinho com o som do gelo no copo e abandonar o palco é grande.

Continuo curtindo rock pesado, mas agora com um pingo mais de consciência. E exigência. Não consigo entender que graça eu via em Ozzy Osbourne – fazer chifrinho para um barrigudo que inclui morcegos na dieta não me parece muito lógico. Adquiri um certo senso de decência. Arrotar na frente de velhinhas perdeu a graça – elas não se assustam mais.

Além do Metallica, tem o Twitter Fest, um festival que me faz ter vergonha de ser usuário da bagaça: as bandas ou são emo ou são lideradas por fedelhos com lápis nos olhos. Um horror. Fico preocupado com o fato de ter moleques que rasgam o joelho das calças, mas não abrem não do Todynho da mamãe. Certos itens da cultura pop só podem ser apreciados se você tiver razão para tal. É como diz o George Carlin: publicitários e advogados não combinam com uma moto Harley Davidson.

Ou seja: crianças, berrem à vontade, mas sem essa de fazer cara feia só para bancar o “jovem durão que enfrenta as agruras de uma sociedade falida e sem perspectivas”. Suas vidas não são “uma barra” apenas porque a garota da escola não quer dar para você. Esperem até ter que declarar o primeiro imposto de renda. Aí vocês vão o que é "razão para ficar puto".

PS: estou com uma vontade louca de falar mal da Mallu Magalhães. É fácil e rende acesso à beça... Ser ranzinza tem suas vantagens.

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8 Comments:

Blogger Unknown said...

Por falar em George Carlin, ele merecia um texto seu.

Teu trabalho é foda.

sexta-feira, janeiro 29, 2010  
Blogger Walter Carrilho said...

Fred: Mais que um texto, ele merecia um altar!

sexta-feira, janeiro 29, 2010  
Anonymous Anônimo said...

Cara! Também estou vivendo esse tipo de dilema. Trabalho direto, estudo e ainda tento manter minhas amizades mais escrotas e alcoólicas. Pelo menos meu tipo de evento custa em torno de 15 a 40 mangos.

Achei legal que você tenha citado a expressão "Cultura Pop". Se eu fosse um jornalista, e muito sacana, eu perguntaria para o entrevistado no meio da entrevista, o que viria a ser isso...

sexta-feira, janeiro 29, 2010  
Blogger Walmoroso said...

Faço coro, Walter, e acrecento: vamos ser sinceros; Desde que entrou essa onda de "Pista Vip", qualquer show perdeu automaticamente a graça. Se antes já me recusava ter que pagar 300 conto pra ir num show com todos os empecilhos que você citou, dá pra imaginar o que vem agora que você precisa pagar 300 paus a mais só pra poder ficar na boca do palco que, aliás, era a única coisa que fazia a geralzona valer a pena. Exemplo o último Maquinaria Festival; no segundo dia o que foi melhor: assistir Danko Jones na fila do gargarejo do palco secundário junto com o pessoal que realmente gosta de rock ou ver o Evanescence pelo telão e tendo ainda que aguentar uma porrada de menininha junto com a mãe chorando "Amy eu te amo!" do teu lado? Agora show só vou de graça ou se for numa pizzaria zuadona aqui perto de casa, que faz festivais baratos e com bandas da região que se preocupam de verdade em fazer rock do bom.

Ainda a respeito da sua citação do George Carlin, o que mais dá raiva é saber que no brasil quem mais frequenta moto-clube e compra moto desse naipe é executivo tiozinho que quer escapar da rotina no fim de semana...

sábado, janeiro 30, 2010  
Blogger Andlusferr said...

Ficar velho é um saco mesmo... E o pior de tudo, é ver tudo que você gostava,ser "repasteurizado" por um bando de guris, selecionados à dedo (com ou sem má intenção) por uma corja de "marketeiros". Vide a ocasião quando um grupo de "frangas",vulgo TATU(ou o que o valha), regravou "How soon is now", dos Smiths, sem aomenos saberem do que se tratava.
P.S. Odeio "revivals e revisiteds" da vida! Bandas boas devem seguir o ciclo da vida, e acabar tragicamente, se possível.

sábado, janeiro 30, 2010  
Blogger Paulo_weidebach said...

É, sou eu, sem tirar nem por. Das coisas que escutei de som gringo sobram uns 3 cds. O Resto é lixo...

sábado, janeiro 30, 2010  
Anonymous Bete said...

Ainda nao descobri o que esses ditos famosos fazem com tantas toalhas!!!!
Bjs

sexta-feira, fevereiro 05, 2010  
Blogger Carlos Andino said...

Ainda bem que não abri mão dos velhos shows de hardcore, punk e Oi! que são baratos e, na imensa maioria das vezes, o ingresso não custa mais que R$ 20,00. Mas o que estragou definitivamente os shows de boa bagaça é essa criançada babaca que cai de boca no que os "marqueteiros" falam que é a verdade absoluta de rock, daí temos um monte de merda tocando nas rádios como se fosse rock de verdade. Agora compreendo pq os Carecas, os headbangers e os punks costumam dar corridão em emos.

domingo, fevereiro 07, 2010  

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