POR QUE EU NÃO QUERO UM IPAD (AINDA)
Quando inventaram o cinema falado, um “gênio" alertou: “Vai ser um fracasso, as pessoas não vão mais poder dormir no cinema!” Penso nesse cara toda vez em que aparece alguém querendo ser visionário. Gente que adivinha o futuro costuma falar muita bobagem. Ok, dizem que o Ipad é o futuro. E dessa vez acredito que os visionários acertaram. O problema é que esse “futuro” me assusta. Por quê? Cito duas cenas reais:
Supermercado, oito da noite. Na minha frente na fila do caixa, um clone da Fernanda Young, com aquela indefectível cara de cu, fuça no seu Ipad enquanto espera com ar blasé a operadora passar as compras. O que ela estaria fazendo de tão importante no aparelinho? Trabalhando? Não: jogando Farmville. As cenouras não podiam esperar cinco minutos? Aparentemente, não.
Excesso de conectividade não nos transforma, necessariamente, em pessoas mais produtivas ou inteligentes. Pode nos deixar mais boçais e fúteis. Shakespeare não tinha nem uma máquina Olivetti para escrever. Se usasse um computador talvez ele tivesse perdido o tempo jogando paciência. Não sei.
Não embarco fácil em novas manias. Aposto que na Alemanha da década de 30 muita gente viu aquela molecada loira com um braço levantado e suástica no peito e achou que fosse a nova onda. 10 anos depois eles descobriram que nem toda “nova onda" é uma boa. Talvez o sujeito que inventou a roda se arrependesse da invenção se descobrisse as barbaridades que fazemos no trânsito hoje.
Eu sei, o iPad é sen-sa-ci-o-nal, posso ler livros do mundo inteiro, etc. Eu vou acabar comprando um. Mas não sou do tipo que adere a qualquer novidade logo de cara. Sou geneticamente cético. Demorei um pouco para ter celular, twitter, etc. E, mesmo assim, já falei muito mal deles neste post e neste aqui. Prefiro que todos sigam bovinamente a nova mania. Se não resultar na Polônia invadida, ai beleza, eu embarco.
Marcadores: jornalismo boçal
8 Comments:
Concordo totalmente. Eu tambem nao entro na onda do gadget, tambem demorei pra ter celular, etc. Porem quanto ao IPad, acabei comprando um, porque realmente e muito bom para ler livros, armazenar PDFs, musicas e substitui telefone na boa quando a gente usa o Skype. Pra armazenar referencias bibliograficas e a melhor coisa que eu ja vi.
Poderia ser melhor - por exemplo, rodar Flash - mas e um gadget bem util quando voce sabe usar. Sim, tio Walter, acredite, voce ainda vai ter um (ou um similar).
O que irrita com gadgets e exatamente o numero assombroso de idiotices que as pessoas fazem com
eles...um trequinho desses nao deveria substituir o
cerebro. Mas ai a culpa nao e do equipamento...ja viu aqueles caram que usam SMS nos carros e acabam dentro de rios porque o sat-nav estava desatualizado?
cerebro,
Livro você deixa cair no chão e tá beleza. iPad se cai é prejuízo!
Sei lá pra que serve esse tal de ipad.
Fato: Brasileiro e pobre não consegue achar uma utilidade pra aparelhos tecnologicos que não seja orkur, msn, facebook e twitter e qual quer um que discorda do post tem o rabo preso em alguma das categorias citadas.
Sou quase tão cético quanto você. Levei quase dez anos para comprar um celular, quando todo mundo já tinha. E só entrei no Twitter porque descobri que os amigos não estavam mais combinando cervejadas por e-mail ou telefone.
E suas histórias reais me lembraram de uma que aconteceu comigo e minha mulher. Estávamos no avião e em dado momento ela pegou um livro em inglês que estava lendo ("1984", do Orwell. Ora pois).
O cara que estava na terceira poltrona e não resistiu: sacou seu Kindle e passou a ler em inglês, também. O conteúdo? Historias do ursinho Puff.
não sei se o iPad é tão sensacional assim. mas seu texto foi direto ao ponto! concordo em tudo!!! um abraço de mais um colega mal humorado e cético!!
Nada substitui um livro de verdade. Nem o mais poderoso aipédi!
#Prontofalei!
POis é, tb concordo com essa história de que tudo que é novidade parece que querem que tenhamos a força, mesmo que isso custe o dobro do salário de um professor (como se salário de professor fosse sinônimo de alguma coisa aqui nesse país que dá mais valor a uma copa do mundo ao invéz de jogar a grana federal no aperfeiçoamento dos professores). E tb cncordo que parece que os modernosos de plantão parece que querem redescobrir o mundo da pior maneira possível: com os livrinhos da infância do indivíduo.
Mas numa maneira geral um Ipad não substitui o prazer de ler a primeira edição de "Cândido - ou O Otimismo" com uma carta declaratória escrita a mão e assinada pelo próprio autor (sim, tive contato com esse livro quando trabalhei na biblioteca da Universidade de Brasília).
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