sexta-feira, novembro 30, 2012

UMA AVENTURA ALÉM DA CORDILHEIRA


Os brasileiros são os novos japoneses. Estamos em todos os lugares, tirando fotos e fazendo barulho. E eu fui ao Chile, aumentar esse contingente. Nossos conterrâneos estão descobrindo o país. Coitado dos chilenos, que têm que aguentar essa multidão de gente mal vestida que pensa que sabe falar espanhol.

Brasileiro tentando falar com chileno é uma desgraça: acha que para falar espanhol basta botar “ito” no final das palavras e mais algumas vogais no meio: “Quiero um cafezito, puede ser?” A gente não entende que o esquema é outro.

Exemplo: em espanhol, peixe é “pescado” ( e não “pieixe”). E não é “pessscado”. O chileno (assim como o argentino, etc.) morde o “s” até virar quase ”f”: “pesfcado”.  Até aprender você acaba com câimbra na língua.

Tirando esse detalhe “linguístico”, qualquer brasileiro acaba curtindo o Chile. Todo lugar onde você não ouve funk carioca é legal (apesar de lá ter o reggaeton). O povo é bacana e tem muita coisa para ver. No centro de Santiago, a capital, por exemplo, você vê prédios históricos, em vez de 30 mil cortiços verticais, como no centro de São Paulo. Ao meio dia, ouve-se um tiro de canhão. É uma tradição local. No Brasil,  explosão só se for de caixa eletrônico. 

Todo brasileiro que vai ao Chile quer ir até Valparaíso cidade litorânea histórica. A gente vai para ver o Oceano Pacífico. Que, por sinal, é igual ao Atlântico. Muita água. Só que gelada. Muito gelada. Para você ter ideia, no porto de Valparaiso tem colônia de Lobos Marinhos. Botei o pé na água por 2 segundos e quase tive que amputar a perna. Frio pra caray.

Chile é um país com uma incrível diversidade geográfica. Tem gelo no sul e deserto no norte. E tem a Ilha de Páscoa. Em Vina Del Mar tem um Moai original, oriundo da ilha. E tem a cordilheira, ao lado da capital, Santiago. O país tem montanha a dar com o pau. Em Santiago tem ainda os “cerros”, morros enormes no meio da cidade, com uma vista bem legal. Se fosse no Brasil, já seria chamado de “montanha”. E estaria controlado pelo Comando Vermelho.

Além de ver paisagem, o brasileiro vai ao Chile para comer. Lá tem muito peixe, camarão e mariscos (nome usado para quase tudo que é bicho com concha).  E por um preço camarada. O problema são os garçons de alguns pontos turísticos, o garçom corre (mesmo) atrás de você, te convidando para o restaurante dele – mais ou menos como acontece na “passarela do álcool”, em Porto Seguro. E como brasileiro é besta, acaba tentando fazer “bonito”, puxando papo e pedindo pratos em espanhol. O resultado é que, com o portunhol, você pode acabar recebendo um trator ao molho pardo.

A única coisa não recomendável é o café. A água de Santiago tem sabor de ferro. O café expresso, salvo exceções, tem gosto de corrimão. Mas você pode ir a um Café com Piernas, uma sensacional invenção chilena: são cafeterias com atendentes vestidas em vestidos justíssimos e curtos. Você sai do trampo e vai relaxar, bebendo um café (ruim) enquanto  bisbilhota as coxas das garotas. Isso sim é desenvolvimento social.

E por falar em relaxar, é bom não se meter com a polícia chilena. Lá a coisa é séria. Quando fui visitar o palácio do governo, havia 3 manifestações programadas (sim, lá você avisa a data e o local, em vez da zona que rola no Brasil). Bastou surgir os manifestantes para surgirem vários carros blindados. Pelas marcas de tinta e pancadas nos carros, dá para ver que lá o bicho pega. Em poucos minutos estava todo mundo tossindo: soltaram uma espécie de gás pimenta para acalmar os ânimos.

Outra coisa  séria lá é o vinho. Vinho no Chile é barato. E bom.  Todo turista brasileiro visita uma vinícola chilena. Fui à Concha y Toro, maior vinícola do Chile. Comprei um pacote que incluía degustação com sommelier. Só tinha brasileiro no grupo. Nós não manjamos de vinho, mas eles manjam. A mulher falava do odor de “morango e madeira tostada”. E a turistada ficava cafungando a taça com ar de desespero, conversando baixinho: “Eu não senti morango, só uva, e você?” 

Para quem quer algo mais forte, pode-se tomar Pisco, uma espécie de cachaça feita de uvas. O nome é bem coerente: duas doses e você fica com o fiofó piscando. Ou então o Mote com Huesillos, bebida doce elaborada com calda de pêssegos e grãos de trigo. Não, não provei, pois eu amo muito a minha vida.

Espero voltar a visitar o Chile. Isso se a invasão dos bárbaros (brasileiros) não acabar com o país antes.

Agradecimentos especiais a Paul Evans (Chile), Paulo Weidebach  Silvia Belrus,  Eduardo Armelinni e Philipe Brito (Brasil) pelas dicas. Salud!

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sábado, novembro 17, 2012

CRUZA LA FRONTERA

Titio vai tirar 10 de férias e sair do país mais uma vez. Por isso, o blog vai ficar uma semaninha em repouso. Acho que vocês nem vão sentir a diferença, posto que eu ando atualizando essa bagaça com a mesma velocidade e agilidade que a justiça brasileira. Mas a educação me obriga a dar o aviso.

Volto com as impressões boçais sobre um país próximo e que tem muito a nos ensinar. Tenham juízo e não ouçam nada que o Caetano cantar, ok? 

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terça-feira, novembro 13, 2012

ELA É O QUE É. E ISSO É RUIM

Parem tudo. Preta Gil tem clipe novo da praça e eu não sabia: “Sou o que sou”. Como tudo que Preta Gil faz me interessa, eu fui logo conferir. Parem o que estiverem fazendo e assistam:




Digamos que cada país um tem a imitação de Beyoncé que merece. Por aqui temos uma versão “Beyoncé depois da dieta de carboidratos”. Deviam avisar a "cantora": não basta ligar o ventilador para balançar as madeixas. Para ser a Beyoncé dos trópicos é preciso saber cantar. Preta não sabe. Não sabe dançar, também. Não tem suingue. Não tem nada.

O que Preta Gil tem? Um pai famoso. Eu gostaria de saber quem foi o imbecil que convenceu Preta Gil a cantar. Espero que não tenha sido Gilberto Gil, pois isso o deixaria mais perto do inferno (isso e "Punk da periferia").

Preta pode até ter um público cativo. Grande merda: até bandidos têm fãs. O que eu gostaria mesmo era que as pessoas dessem mais atenção às músicas do que aos seus discursos. Ouçam um trecho do vídeo. 10 segundos e vocês vão notar: é ruim. De doer. É sem sal. É como ouvir um coroinha contando piada pornô. Ou Cid Moreira cantando James Brown. Não “orna”.

E neste clipe Preta mostra uma característica curiosa. Geralmente, as cantoras buscam imitar quem tem mais talento. Preta conseguiu achar alguém pior do que ela (foi difícil, imagino) para se espelhar: Stefhany (lembram dela?). Toda esse clima erótico-sadomaô de baile gay de 5 ª categoria parece ter sido copiada deste vídeo. Preta ainda imita direitinho as caras e bocas estilo “atriz de peça do grêmio infantil” da Stefhany, com o mesmo resultado bisonho. É isso aí: as barangas estão descontroladas!

Mas o pior é o clima de “lição de moral”. A música pretende ser um manifesto a favor da "tolerância", algo assim. Lindo: Preta, que já é um desastre como cantora, agora quer bancar a socióloga. E parece que o  truque funciona. Nos comentários do vídeo, tem um monte de paspalho elogiando a "defesa das minorias" que a cantora faz. Crianças, ela está tão preocupada com as minorias quanto eu com as formigas do Tibet. 

Muita gente também elogia Preta por ela ser gordinha e não ter vergonha disso. Perfeito. Como manifestação comportamental eu acho corretíssimo. Mas isso não a transforma em artista, vamos combinar? Eu gostava da Dercy Gonçalves, que  assumia que era uma velha desbocada. Mas nem por isso eu iria comprar um disco dela.

Por isso, Preta, nem pense em emagrecer. Ou falar menos bobagens. Você perderia a única coisa que chama atenção em sua carreira. 

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sexta-feira, novembro 09, 2012

OS AMERICANOS COMEM CRIANCINHAS?


Nos anos da Guerra Fria, tinha gente que encarava os soviéticos como alienígenas sugadores de cérebro. Hoje a gente sabe que eles são como nós, apenas com algumas  doses de vodka a mais. Agora o papel de vilões mundiais cabe aos americanos.

É tudo culpa deles, você sabe. Comparamos os caras aos romanos que barbarizavam o mundo há alguns séculos - como se os outros povos bárbaros fossem bonzinhos, lógico. Tem gente que torce para ver os americanos se ferrando.

Vi gente comemorando a passagem do furacão Sandy por Nova Iorque. Um clima de “chupa, gringo!” É comum ter gente que vê erro em tudo o que se relaciona com os americanos. Por exemplo: a cobertura da mídia sobre o furacão. As reclamações sobre o foco quase exclusivo dado para os efeitos da tragédia nos EUA é justa. Mas dizer que é uma imposição dos americanos é balela.

Sim, Cuba e Haiti também sofreram os efeitos de Sandy. Mas os jornais do mundo têm pencas de correspondentes nos EUA. E nem sei se dá para ter correspondente no Haiti ou em Cuba, manja? Jornalistas são preguiçosos. Quem vai querer ir para Haiti? Os cafés de Nova Iorque são mais bacanas.

Mas os americanos nos deram algumas lições. Os casos de pessoas que tinham acesso a energia elétrica e deixavam os outros carregarem os celulares pulularam na mídia. Se fosse no Brasil, nego estaria cobrando 50 pilas a carga. Estou exagerando? Então basta se lembrar daqueles cretinos que roubaram suprimentos enviados para vítimas de tragédias em Santa Catarina. Somos gente fina, não? 

Americanos, até onde sei, não têm uma Nana Gouveia para tirar fotos posando ao lado de destroços. Se ela pegar gosto por esse lance de tirar foto de tragédia, em breve vai tirar fotos ao lado do próximo disco de Caetano Veloso. Americanos têm Lady Gaga. Que é ridícula, mas pelo menos não sai por aí dizendo que curte namorar durante furacões.

Também vi muita gente comentando a complexidade da eleição americana, defendendo a ideia monga de que nós somos democraticamente mais avançados só porque temos urnas eletrônicas. Sugestão? Leia meu último texto sobre eleições e pare com essa ideia de merda.

Americanos são estranhos e, muitas vezes, estúpidos. Não confio em um povo que faz churrasco de hambúrguer e gosta de baseball, essa porra de esporte que ninguém entende. Como todo país, eles têm ilusões de grandeza. E mitos fundadores fajutos (o cowboy do velho oeste é tão furado quanto a nossa imagem de bandeirantes arrumadinhos e “heroicos”). Mas eles são uma nação com alguns valores.

Exemplo: na festa da vitória de Obama, o que se viu foram pessoas agitando bandeiras do PAÍS. Não se via bandeiras de PARTIDO. O que talvez mostre que, para eles, o país é maior do que as picuinhas políticas. Vamos combinar que aqui é bem diferente?

Mas o mais engraçado é que os que falam mal dos EUA nas redes sociais geralmente usam Iphones para fazer seus comentários. Bitch, please...

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quinta-feira, novembro 01, 2012

JOGUE FORA SEU VOTO DO JEITO QUE PREFERIR.

Ok, era para ter postado esse texto antes do 2º turno. Mas a mensagem ainda vale. Senta, que o texto é longo. E, não, titio não anulou o voto.

O fato de sermos privados de votar aqui no Brasil durante um tempo fez muito mal para nós. Fez com que a gente desse muita importância ao voto. Sinto dizer, sobrinhos deslumbrados pela democracia, mas o voto não é tudo isso, não.

Durante a última eleição rolou uma saraivada de sermões. Gente dizendo que votaria nulo como protesto. E gente satanizando o voto nulo como se fosse um gesto alienado de lesa-pátria.  É como se aqueles 10 segundos na urna fossem a expressão máxima da democracia. Não é.

Voto nulo como protesto é inútil. Mas é um direito de qualquer um. Esse papo de votar no “menos pior”, ou de “assumir o seu papel de cidadão” é balela. Vale lembrar o melhor episódio de South Park, em que os alunos da escolinha devem escolher o novo mascote do time. E as opções são o “Sanduíche de Merda” e o "Babaca Inútil- veja aqui um trecho (qualidade ruim, uma pena). No Brasil é o que rola na maioria das vezes. Mas, tudo bem: se você não gosta de nenhum deles, não vote. Qual é o problema?

Porque a classe política tem nos oferecido pouco mais do que alguns sanduíches de merda. E de quem é a culpa? Nossa. Nesse vídeo do mestre George Carlin ele explica porque não vota. E lembra: políticos deveriam ser o que de melhor nos criamos. Se nós criamos esses borra-bostas, é porque nossa sociedade é mesmo medíocre. Eu assino embaixo.

Votar não te faz uma pessoa mais “consciente”. Tenho certeza de que aqueles que votaram no Maluf para deputado estavam plenamente “conscientes” do que faziam. Comparado a eles, o sujeito que vota nulo faz bem menos estrago. Prefiro alguém que assume o “não voto” do que aquele que insiste em votar errado. Nego que votou em Russomano é mais consciente do que eu? Nem a pau.

E dizer que o eleitor que vota nulo NÃO tem direito a reclamar é uma afronta à razão. Se fosse assim, crianças e adolescentes (que não votam, lembram?) não teriam direito a voz. Votar é uma parte ínfima do processo democrático. O sujeito que anula o voto e se dá o direito de reclamar e fiscalizar seus governantes é muito mais cidadão do que aquele que vota bovinamente e aceita tudo o que seu candidato faz.

Essa euforia forçada em torno das eleições é um espetáculo tão falso quanto desfile de escola de samba. O seu voto não tem todo esse poder de mudar o destino. Mesmo porque, o nosso sistema eleitoral é cheio de distorções. O Voto Proporcional, por exemplo, faz com que você vote em um deputado e eleja outro. Bacana pacas.

Aliás, você já notou que as duas melhores demonstrações de eficiência do estado brasileiro são as eleições e o sistema de arrecadação de impostos? Funcionam como relógios. Todo o resto é uma merda. Não é curioso que os mecanismos mais eficientes são justamente aqueles que servem para a manutenção confortável da classe política? Lembre-se: quem mais estaria interessado em fazer do voto uma coisa obrigatória?

Olhe bem para os últimos candidatos. Você acha mesmo que o objetivo principal deles era cuidar da sua cidade? Leia este interessante artigo que explica como o debate político está vazio de conteúdo útil. As discussões estão dominadas por manobras marketeiras. Por exemplo: desde quando a religião do candidato interfere na sua competência? Nem a imprensa cumpre mais seu papel de botar os candidatos na parede. Toda eleição vira um fórum de platitudes.

Veja o caso de São Paulo. Haddad e Serra disputaram a prefeitura a tapas. E no final da campanha já estavam falando bobagens como “vou ter garra”, vou suar a camisa”. Na boca de um jogador isso até engana. Mas em um candidato a prefeito é tão útil como um pente para bolas de boliche.

Óbvio, né, Juquinha? O que estava em jogo não era a cidade de São Paulo, e sim o plano de governo de dois partidos que transformaram a política nacional em um fla-flu estéril. Serra não estava nem aí para a cidade. E Haddad é apenas um garoto de recados dos seus líderes. O que VOCÊ acha melhor para a cidade é mero detalhe.

O resultado mais relevante da eleição em São Paulo foi o número enorme de gente que não votou em "ninguém". Se você juntar Serra e "Ninguém", dá mais do que os votos em Haddad - ou seja, quem vai governar nem mesmo representa a maioria dos eleitores. Estamos cansados desse joguinho, Juquinha.  Está com tempo? Então leia mais esse artigo. É do André Forastieri, que explica o voto em "Ninguém".

Por isso, em vez de sair por aí se sentindo um super-homem porque votou, faça algo mais útil: seja um pentelho. Cobre os políticos. Eles não merecem se sentir confortáveis, muito menos apoiados por você.

E, por favor, me deixe ser cético. É meu direito. E minha escolha. Se você acredita nos sanduíches de merda, o problema é seu.