Senta que o post é grande!Há algumas semanas eu tasquei por aqui um
post polêmico a respeito do incêndio que incinerou parte do acervo do artista
Hélio Oiticica. Como todos os posts deste blog, ele é um misto de boçalidade, irresponsabilidade e provocação. Deu certo: o post
bateu recordes de comentários. E ainda hoje recebe comentários de gente possessa, me chamando de insensível, cretino e ignorante. Sim, tem gente que vê pessoas passando fome e não se incomoda. Mas vá falar mal de artista para ver o que acontece.
Vamos explicar algumas coisinhas para esses desocupados: eu gosto pacas de arte. Pior: entendo um bocadinho. Fiz cursos e até me arrisquei a pintar quadros (são pavorosos, mas eu pendurei alguns na parede da sala e as pessoas, por incrível que pareça, gostam). Vou muito a bienais e galerias. O problema é que há anos o que eu vejo
só me causa bocejos. Se arte é para provocar alguma coisa, não está mais funcionando. Mas continuo vendo gente que leva tudo a sério demais. E isso é um saco.
O último sujeito que realmente quebrou paradigmas foi
Duchamp, que expôs um mictório. Ele mesmo não levava as coisas muito a sério e adorava tirar um barato.
Andy Warhol também quebrou alguns padrões, sacaneando a idéia de “perenidade” da coisa toda. A provocação teve seu efeito, seu valor. Mas teve, também, sua época. Hoje em dia, nenhum estudioso de arte de renome leva a arte de Andy Warhol a sério – pelo menos na maioria dos países desenvolvidos. Eles só consideram o papel histórico que o cara teve. Duchamp é outro nível, mas, como eu disse, ele mesmo desdenhava a seriedade da arte.
É assim em várias áreas do conhecimento. Até Freud hoje é reavaliado – os especialistas mais sérios o consideram um sujeito fundamental para a história da psicologia, mas não dão mais valor a parte de suas teorias.
Tudo isso muda no Brasil. Por aqui, o povo abaixa as calças para qualquer sujeito que receba o carimbo de “importante”. A patuléia gosta de adorar vacas sagradas – qualquer uma. Mesmo quando não as conhece de fato. Aposto meus testículos como metade dos irritadinhos que comentaram o post sequer já estiverem frente a frente com uma obra de Oiticica. São aqueles sujeitos que vão a exposições e perdem vários minutos diante do hidrante, achando que se trata de uma instalação. E ainda dizem “Uau, que profundo” . Afinal, fica mal “não entender” arte, saca?
Oiticica teve a sua importância, óbvio, e conseguiu provocar discussões sobre o futuro da arte, etc. Mas a sua “maestria” precisa ser relativizada tendo em conta que moramos em um país com uma carência gritante de “gênios”. O tempo passou. Ao ver uma exposição dele a sensação que tive foi a seguinte: “Bacana, mas me passe o sal, por favor”.
Citei Picasso no post porque ele foi provocativo em uma época em que Hitler ainda estava vivo – era barra pesada. Tinha gente que odiava o que ele fazia, mas o tempo mostrou quem ia ganhar a parada. Hoje Guernica ainda é uma obra e tanto porque a provocação tornou-se perene. Você vê e se emociona. Quem hoje se emociona com fotos de Jimmy Hendrix coberto de cocaína nasceu ontem ou é vaca de presépio.
Os provocadores tupiniquins são levados a sério demais. Não custa nada reavaliar o que já foi revolucionário em outras épocas e dar a eles o papel merecido: histórico, artístico. Não “perene”. Nada de “patrimônio da humanidade”. Muitos deles eram filhinhos de papai entediados. É fato, e daí? Precisamos deles, mas, cazzo, não precisamos colocar no pedestal e beijar os pés, caceta. Quem tem chilique para defender Oiticica está apenas mostrando cagaço de rediscutir a arte e fazendo papel de papagaio – repetindo o que disseram que é legal dizer.
O post não é sério. É uma provocação, também. Por que eu ODEIO o espírito de manada desse Brasil que se esforça para ser “descolado”. Que não admite criticar ninguém, que tem medo de mexer em vespeiro e vive atrás de um ídolo para adorar feito uma besta. Que lê os livros da lista dos mais vendidos para não perder o bonde. Que consulta lista de ”filmes que você deve ver antes de morrer” para não passar vergonha no sarau. Que acredita seriamente que precisa “entender as coisas”. Ah, vão a merda, fariseus!
Em resumo: se você é um desses infelizes que perdeu o seu tempo dando liçãozinha de moral e arte nos comentários no post em questão, relaxe e leve as coisas menos a sério. Esse blog é iconoclasta por princípio e adora irritar a arquibancada do senso comum. Você perdeu o seu tempo e fez papel de otário. E eu consegui o que queria: atrair leitores, aumentar os acessos e provocar celeuma. E adorei o resultado! Sabe o que vou fazer agora? Fazer um post falando mal do Almodóvar. Aposto que vai ter neguinho tendo infarto!
Agora voltamos a nossa programação normal. Malu Magalhães acaba de lançar disco e eu estou louco para ouvir (not!).
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