quarta-feira, setembro 29, 2010

UM BRASILEIRO EM PORTUGAL PARTE 2

Um guia boçal para quem quer se virar na terra do bacalhau (rimou! Sou ou não sou o novo Camões?).

Um brasileiro que visita Portugal se sente como um Pedro Álvares Cabral às avessas. Viajar 12 horas em classe turística hoje equivale a meses de navegação em caravelas no século 14 – a comida de hoje só é um pouquinho pior.
A primeira coisa que acontece com o brasileiro que chega a Portugal é ter as vogais confiscadas na alfândega. É para você aprender a falar como os portugas, atropelando as letras (vai treinando: “stúpdo!”, “imbcil!”). Em compensação, você logo aprende a recolocar as vogais perdidas em outras palavras: “trabalhaire”, “correire”, etc. É estranho, mas você se acostuma.

Todo brasileiro sofre em Portugal. Por exemplo: é difícil ("dfícil") não confundir os nomes das pessoas. São mesmo iguais. É uma avalanche de João, José e Manuel. Taxista que tem nome diferente faz questão de ressaltar a exclusividade. Um taxista em Lisboa se gabou de se chamar “Libório”. “Com iesse nome só tem ieu!”.

A falta de criatividade para nomes pessoais é equilibrada pelo costume de dar nomes esdrúxulos às coisas. Por exemplo: não estranhe se alguém lhe oferecer um “Licor de merda”. É apenas um licor de leite. E se te chamarem para ir no “cabeço das rolas” não se ofenda. É um lugar publico. E “Biba Tour” é o nome de uma empresa de passeios, não tem nada a ver com o mercado GLS. Por outro o lado, eles adoram nomes literais: “pedante” não é um adjetivo para Caetano Veloso, e sim o nome de uma sapataria.
Quem sofre bastante é o estômago do turista. Não é uma terra para diabéticos: tem muito doce ("travesseiro", "guardanapo", os caras gostam mesmo de nome esranho) e comida pesada. Você escolhe: prego no prato, pica-pau, punheta.... Os nomes são horríveis, mas a comida é deliciosa. E água é bebida exótica. No lugar dela, bebe-se vinho. Muito. Videira lá é como mato, tem em tudo que é lugar.

Aliás, os vinhos do Porto que bebemos no Brasil e custam os olhos da cara são brincadeira de criança para eles. Lá você encontra bebidas com 40 anos de fermentação. Bebi um troço de um barril com 60 anos de idade. A bebida era muito boa, mas no dia seguinte fiquei com a impressão de que estava crescendo cabelo na língua.
E para quem acha que o português guarda rancor da antiga colônia, é bom saber: eles adoram brasileiros, desde que não sejam prostitutas. As brasileiras monopolizam o mercado do sexo (papa essa, Brasil!). Mas com as notícias do pré-sal e do dinheiro que emprestamos para o FMI, os bigodudos acham que estamos nadando na bufunfa. Aguarde, em breve teremos uma avalanche de padeiros por aqui.

De resto, o brasileiro tem fama de mal educado e arrogante – não só em Portugal, parece que rola na Europa toda. E com razão. Tem sempre um brasileiro mongo reclamando dos castelos (“É meio velho, né?”). Nós exportamos para Portugal tudo aquilo que não presta: novela e discos do Seu Jorge (tinha um tocando em um museu, acredite). Se eu fosse o primeiro-ministro deles mandava recolonizar o Brasil pra parar com essa sacanagem.

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sexta-feira, setembro 24, 2010

UM BRASILEIRO EM PORTUGAL PARTE 1

Passei as férias em Portugal e, além de uma mala cheia de vinho, trouxe impressões boçais da terra do Roberto Leal. Mas, antes, preciso aproveitar para espezinhar o ufanismo tapuia - é terapêutico, vocês entendem?

Tem gente que acha que ir a Portugal é como assistir a um desfile do grupo de acesso do carnaval: é bonito, mas não é a primeira divisão. Bobagem. É tão europeu quanto a França, só que com garçons mais simpáticos. Portugal é um inferno para os nacionalistas renitentes: não tem Itaipu, não tem Embraer, mas é um país melhor que o nosso. Qualquer país em que as pessoas envelhecem sem ser seqüestradas já é melhor que o nosso.

As pessoas se espantam quando eu digo que Portugal é um país evoluído. Todos querem saber como é metrô e se a internet funciona. Isso para mim não é evolução. Evolução é fazer o que eles fazem: dizer “obrigado” sem encarar o ato como uma obrigação. Você atravessa a rua os carros param para você passar. E os motoristas ainda sorriem. Se fosse aqui eu seria atropelado. Eu trocaria todos os bilhões do pré-sal por isso.

Para exemplificar, vale contar o que aconteceu logo comigo que cheguei: esqueci um pacote no táxi que me levou ao hotel. 30 minutos depois trombei com o taxista desesperado tentando me encontrar para devolver o pacote. Levou um tempo para eu aprender: os portugueses não seguem a lei de Gérson, não precisam tirar vantagem de todo mundo a qualquer hora.
Os portugueses estão em crise, o desemprego come solto, mas eles não perdem a decência. Vai ver é por isso que nós cultivamos a idéia equivocada de que eles são burros – nós temos a mania de confundir gentileza com indigência intelectual.

O segredo de Portugal é que eles tiveram idade média. E sobreviveram. Eles evoluíram, guardando apenas o que valia a pena: castelos para virar atração turística. Nós queremos ser o país do futuro sem passar pelo estágio necessário de “evolução”.

Precisamos ter nossa "Idade Média". É necessário queimar bruxas e encarar a peste negra antes de construir um país moderno. O mais perto da Idade Média que chegamos são as construções do Niemayer. O problema é que os arquitetos medievais faziam construções desconfortáveis por falta de tecnologia. Já o Niemayer erra de propósito.

Moderno, para os portugueses, é preservar o passado. Nós preferimos passar um trator no que é velho e fingir que temos um futuro. Na boa? Não vai dar certo.

No próximo post eu falo do que interessa: vinhos, bacalhau e prostitutas brasileiras. Aguardem.

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sexta-feira, setembro 17, 2010

CALMA, EU JÁ VOLTEI!

Minhas férias acabaram e eu estava com a idéia de seguir com a vida mole, estilo "deputado", para continuar bundando. O problema é que o Restart já tem música nova para lançar, logo, voltar ao batente é uma questão de civismo.
Roubei um banco e passei as férias em Portugal, só para desmentir aquela lenda de que o nosso subdesenvolvimento é culpa dos colonizadores. Além de duas dúzias de garrafas, trouxe impressões boçais da terra do Roberto Leal. Mas como hoje meu computador deu pau, estou sem acessar fotos e outros arquivos. Aguardem, na semana que vem o post estará aqui. Continuem fazendo download de filme pornô que eu já volto, ok?
E para quem acha que eu quero falar de Portugal apenas para contar vantagem, eu lembro aos leitores que esse negócio de postar sobre as próprias férias é coisa de quem vai para Ubatuba e acha chique. Só vou postar porque viajar para um país desenvolvido facilita muito os meus argumentos contra o nacionalismo mongo dessa nossa terrinha. Ora, pois...

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