
Ser paulista é um inferno. Significa morar em um estado que,
além de caótico, é constantemente usado como bode expiatório da babaquice que
impera em todo (vamos frisar isso:
TODO) país. É como se São Paulo, particularmente
sua capital, fosse uma espécie de
“eixo do mal”, de onde toda a escrotidão brota.
Eu sou paulista e não tenho nem um pingo de orgulho por isso - e nem vergonha, também. Na verdade, se eu tivesse nascido em outro
lugar, não seria diferente. Sempre achei
“nacionalismo” e
“orgulho das origens”
(seja da cidade, estado ou país) um troço muito besta e sem sentido. Eu mesmo
adoro tirar sarro do lugar onde vivo.
Mas tenho ficado meio cabreiro com o incentivo ao bairrismo
que rola tanto na internet como na imprensa em geral. Parece que
virou um novo esporte nacional fazer o resto do Brasil crer que São Paulo é um
enclave de estupidez. Imagine um
carioca cansado do estereótipo de folgado. Ou um
baiano de saco cheio da pecha de preguiçoso. É a mesma irritação que sinto.
Toda vez em que a besta do
Kassab e o chuchu sem sal do
Alckmin cometem uma de suas arbitrariedades, toda a população de SP é taxada de
fascista
(ô palavrinha fora de moda, hein, meus queridos?). Se um homossexual é assassinado
ou se rola pancada em uma manifestação de rua, TODOS os paulistas automaticamente viram
cúmplices, como se todos formássemos uma massa homogênea de
bestialidade e intolerância.
Gostaria de saber: a partir de que momento o resto do Brasil
virou um país moderno, com povo de mente aberta e políticos vanguardistas? Quer
dizer que
Sérgio Cabral, o governador do Rio, é um cara sensível e humanista? Que
a família
Sarney, que domina o Maranhão há milênios, é composta por pessoas
profundamente preocupadas com o social? O país inteiro aprendeu a votar em
políticos decentes, menos São Paulo?
Ok, isso quer dizer, também, que em todos os outros estados
o povo é
moralmente liberal e tem ideias progressistas sobre sexo, raça e
comportamento? Não existe assassinato de gays em, sei lá,
Goiás? A marcha da
maconha seria perfeitamente aceita no
Amapá? Não existe preconceito racial no
Rio Grande do Sul? E que moradores de terrenos ocupados nunca são expulsos pela
polícia em nenhum outro lugar do Brasil?
O pior é que paulista não pode falar mal de outras regiões
do país, nem elogiar seu próprio estado, porque é logo ridicularizado por ser “xenófobo”
ou por representar o ”orgulho de uma elite decadente”, uma merda dessas. Aliás, que diabo de
“elite” é
essa que só existe aqui? Meu Deus, quer dizer que não tem playboy
metido a besta em
Pernambuco ou no
Paraná? Só aqui?
Vamos encarar? O Brasil é lindo, sim, mas é atrasado,
conservador, desumano, intolerante, politicamente ridículo e moralmente
travado. E, pior: como agora temos mais grana, viramos um país "novo rico", ainda
mais
jeca e preconceituoso.
Pronto, falei.
Agora
vamos falar
de outro assunto, por
favor? O que a
Maria Bethânia anda aprontando, hein?