GENTE QUE SOFRE NO NATAL

Imagine a esposa de um artista plástico que ganha uma caixa com pedaços envernizados de fezes dentro de uma caixa. “Fiz para você. É uma alegoria sobre a podridão do mundo capitalista. Não é legal?” Ou a mãe daquele poeta concretista que recebe um cartão escrito “Meu pau/ cachorro faz au-au/ Feliz Natal”. Eles não merecem comer peru na ceia.
Eu imagino cantores medonhos chegando com uma caixa enorme para “animar” a ceia em família “Olha o que o titio trouxe para a criançada! Todo mundo vai ganhar uma cópia do meu cd de covers de bossa nova!” E não adianta a esposa reclamar “Lucicleyton, de novo essa merda?” Esses tipos não se emendam.
Na casa do Roberto Carlos o DVD do show que ele fez com o Caetano roda sem parar. As crianças choram, fazem birra. Não adianta. Os parentes tentam agradar: “Não vamos deixar o titio nervoso, pois ele pagou a farofa!” Na casa da Mallu Magalhães todos vão interromper a ceia para ouvir ela chorar um pouco em homenagem ao “amor profundo” que ela sente por Marcelo Camelo. Então ela ameaça pegar o violão para cantar alguma coisa. E quem chora são os convidados. Eu também choraria.
Sim, tenho pena desse povo. Mas aí eu bebo a minha 27ª dose de Prosecco e penso “Quero mais é que se foda...” Pois é, eu devia ser mais sensível no natal, não acham?
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