VOCÊ JÁ FOI A UM KARAOKÊ?

O karaokê é o resort onde o bom senso coloca o chinelo e desencana. Nunca vi um karaokê com uma seleção muito decente de músicas. Geralmente são 50 opções da Ivete Sangalo, 60 do Bruno e Marrone e, vá lá, só umas 2 do Adoniran Barbosa. Adivinha quais serão as escolhidas? E tem um agravante: álcool e cantoria não produzem um bom casamento, a não ser que o seu nome seja Frank Sinatra ou Dean Martin.
Existem 3 tipos de freqüentadores de karaokê:
-Os “sem medo” - são os profissionais. Vão para dar show, humilhar os outros e cantar de olhos fechados por razões proctológicas: “Sei lá, 'New Yor, New York' me toca lá no fundo, sabe?”
-Os “sem vergonha” - são os que sobem ao palco bêbados e em grupo. Tem sempre um com a gravata na testa e outro que confunde o copo de chopp com o microfone. O vômito é parte do “bis”.
-Os “sem noção” - são os que não percebem que nasceram para ficar de cordas vocais inertes. Não têm noção da própria desafinação e mau gosto - “Uau! Aqui tem Ângela Rô Rô!” . E não percebem o sofrimento provocado na platéia. A gente aplaude por piedade. O pior é que eles agradecem. E voltam ao palco.
Quando vou a um karaokê eu começo a invejar os animais que embutem um senso prático nas suas cantorias. Por exemplo, tem algumas espécies que só cantam em época de acasalamento. Penso também em outra invenção japonesa: o harakiri. Os karaokês deveriam fornecer espadas de samurai na entrada. Doeria menos.
Mas não recuso convites para ir a um karaokê. É sempre reconfortante descobrir que tem cantor pior que o Fagner.
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